abr 19, 2024

Este ano, a escola de samba paulistana Rosas de Ouro inspirou-se na tecnologia para desenvolver o seu enredo. Buscou empresas de tecnologia, universidades, tecnólogos e programadores para embarcar tecnologia em seu desfile.

Um robô que interage com os ritmistas e entrega baqueta, QR Code nas fantasias para controlar o tempo de desfile, tags de realidade aumentada nas fantasias que podem ser lidos por um App e muito mais.

Quando vi o primeiro título deste assunto, vi Carnaval 4.0 (por isso reproduzi aqui), depois dei uma olhada muito rapidamente na matéria e vi o executivo dizendo que transformou a escola na Rosas de Ouro 4.0, e isso foi a gota d’agua para mim.

Eu não gosto de carnaval e, embora trabalhe com tecnologia, detesto a modinha de colocar 4.0 em tudo, café 4.0, roupa 4.0, comida 4.0 e agora escola de samba 4.0, que preguiça…

Mas, para ser justo, decidi que os meus gostos pessoais e meus preconceitos não interfeririam em minha análise.

O primeiro que fiz foi pesquisar se a tecnologia iria desvirtuar a essência do carnaval, e pelo que eu consegui saber, neste caso não. A interação com o público é interessante e inteligente e o robô é mera alegoria.

A minha preocupação, não que eu tenha nada a ver com isso, afinal, quem sou eu “na fila do pão”, era que utilizassem tecnologia para manter o ritmo, corrigir tempos e marcações, e isso seria triste.

Afinal, uma das marcas registradas do samba é a paixão pela escola, pelo ritmo, as loucuras que só se cometem por amor.

Do ponto de vista racional, muita gente julga absurdo os apaixonados pelo carnaval, terem uma vida modesta durante todo o ano, se privarem de muitas coisas, economizarem ou até gastarem o que não tem, para somente 75 minutos de desfile. Eu mesmo já pensei assim.

Eu não entendia como podem achar legal, pessoas passando mal pela emoção, outros sangrando, tumultuo, calor, enfim…

O carnaval é paixão, alegria, confraternização, em definitiva, sentimentos e emoções.

A magia do carnaval, e qualquer tipo de arte, está na imperfeição, no improviso, no sentimento que transmite e provoca. A tecnologia deve ser não invasiva, garantir segurança, interação com o público, efeitos visuais, mas espero que nunca tente interferir no sentimento.

Mostrar tecnologia e as transformações que estamos vivendo é ótimo, aproximar a tecnologia que estamos acostumados no mundo corporativo ao grande público, também é bom, mas sem invadir a essência do carnaval.

Após ter pesquisado sobre a tecnologia, resolvi olhar o samba enredo, e aí me tranquilizei totalmente ao ler este trecho.

Das mais belas mãos
Revoluções a nos guiar
A inovação vem dessas mentes
O que esperar?
Dona ciência, por favor, não leve a mal
Chegou a hora de rasgar o manual
Quero ver minha Roseira passar
É tempo de amar, é tempo de amar
Aprender, ensinar
Conectar as emoções, unir os corações”

A César o que é de César!

Só me resta dar os parabéns pela grande jogada de marketing da Rosas de Ouro e principalmente agradecer por tecnologia em seu lugar, dando suporte ao espetáculo e ao ser humano.

Como disse, o carnaval não é a minha praia, mas respeito quem gosta, admiro o espetáculo e a paixão que desperta.

Portanto, devemos manter a festa e a tradição.

A holografia ou realidade aumentada podem impressionar, mas nunca transmitirão sentimentos, óculos de realidade virtual não sente a energia, um QR Code jamais vai nos arrepiar como as lágrimas de emoção das passistas cantando o samba enredo da escola até perder a voz.

É esse, exatamente esse, o espírito de uma smart band. Envie alerta ao serviço médico se necessário, meça os batimentos cardíacos, mas nunca impeça de que se acelerem quando a bateria comece a tocar.

E o que ROXP4 jamais roube o sorriso ao gari.

Marcio Bueno assina a coluna “Tecno-Humanização”, no Inova360, parceiro do portal R7. É Tecno-Humanista, fundador da BE&SK (www.bensk.net) e criador do conceito de Tecno-Humanização.

marciobueno@bensk.net

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